domingo, 24 de janeiro de 2010

Cianureto

Estou me sentindo melhor
Você pode ver ou sentir?
As cicatrizes nos pulsos não significam nada

E nem o cianureto perto do copo de vinho

Você disse que amor às vezes acaba

E eu acreditei nisso

E me conformei sendo uma boa garota com a situação

Mas nunca disse que seria boa comigo mesma

Meu bem, não me olhe assim

Não preciso ver o reflexo

Da minha insanidade em seus olhos

Não é fácil manter-se de pé
Quando você sente que não tem onde pisar
Eu sou apenas o sinônimo da confusão

Um redemoinho que perdeu a origem e o destino

E roda em volta da mesma ruína

Sem mais nada para destruir


É tarde para apagar as marcas no carpete

Ou o sangue vertido nunca recuperado

Assim como parte do meu sistema danificado
Por um gole da redenção

Dizem que não se chora pelo leite derramado

Então por que chorar por essas feridas passadas
Se posso encontrar um pretexto melhor?


O vinho não ficou amargo

A lâmina nem está afiada
O que importa são as vozes do passado

Que se calam no instante em que outra dor

Ocupa o lugar que você deixou


Eu espero todos os dias

Implorando a cada segundo que passe mais depressa
Mas o tempo ainda brinca comigo

E quando dou por mim

Se não penso em você
É porque mais uma gota de cianureto

Escorrega para minha taça

As pessoas começam a achar que você enlouqueceu

Quando encontra o alívio de algumas feridas

Em flagelos físicos

Mas loucura de verdade
É enfrentar as coisas como elas são

Sem nada mais forte para ofuscar
Aquele adeus


Então que mal há
Em esconder seus olhos castanhos
Entre o vermelho vivo ainda fresco

Que contorna a superfície brilhante desta adaga

Ou seus traços amados

No frasco do veneno

Que me salva da morte mais temida

Aquela que mata, mas mantém viva

Para matar um pouco mais?

Eu não enlouqueci

Apenas encontrei uma forma mais fácil

De viver os dias
Sem sua presença

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