terça-feira, 5 de julho de 2011

...

Mais um dia seco.
Áspero.
O aspecto modifica-se.
Sim, estamos mudando.
Viajando através das estações da vida.

Uma infância estúpida... ou seria feliz?
Nada demais. Talvez alguns traumas.
Nada fora do comum... ou não.

Adolescência. Em teoria, seria nossa primavera?
Se era para ser, não foi.
Pensando melhor
Algumas alegrias, muito tempo jogado fora.
Algumas tristezas, desapontamentos.
Solidão em alguns momentos.
Companhia e aconchego em outros.

Um brilho nos olhos
Semelhante ao reflexo da luz nas calmas águas de um lago.
Vontade de mudar, de fazer.
É a vida que existe nas cores, nas frutas, nos animais. Em tudo.
Explosão de movimento e sentimentos.
Vontades e limitações.

Desperta a necessidade do amor, seja lá o que for.
Surge então, o outono.
Aquilo que me fazia brilhar, a vida primaveril.
Não existe mais, talvez adormecida para uma outra época.

Agora, no desespero, tento reunir as pétalas decaídas no meu outono.
Junto-as. Tento colá-las.
Ora... só as machuco. Tiro a forma que lhes resta.
Seu perfume se perde entre meus dedos e logo se esvai.

A cor opaca e a sensação fúnebre do outono me dominam.
Um quase que não querer viver. Quase que prevendo a eterna monotonia das estações.
Muito embora, elas mesmas estejam cheias das peculiaridades.

O ápice da estagnação chega com o inverno.
É assim que as pessoas estão.
Embora seus anseios, o mundo a sua volta esteja se transformando, elas vivem dentro de si o eterno inverno.
A solidão de suas vidas vazias as consomem.
Falta de objetivos, a amarga iluminação de que nada vale a pena...

Vivendo, vivendo.

Os sonhos surgem eventualmente numa manhã. Quando a neve brilha.
Como uma folha de papel em branco.
Esperando para ser preenchida pelas idas e vindas desta magnífica força que chamamos espírito, folego da vida.

Sim, pois, na verdade, embora nossas vidas pareçam tão sem sentido.
Inúteis, mera exalação diante da eternidade.
Um pedestre que passa rapidamente pela rua.
Um olhar solitário vagueando pela rua.
Quase que imperceptível.
Visto apenas pelos olhares mais atentos.

A humanidade então, na sua busca desenfreada pelo sentido. Movida, não pela esperança que as estações eventualmente oferecem, mas pelo folego da vida.
Que a motiva a caminhar neste mundo sórdido e cruel, onde nos prendemos numa jaula de carne e olhos. Cheio de mentiras, das quais também tomamos parte.

Seria mais fácil se deixar levar pelo mundo que existe em sua cabeça.
Um universo único, pouco estável, é verdade, singular para cada alma vivente.
Mas espere, eis que vejo algo que como um pássaro.
Ele está cansado.
Suas penas estão cobertas por uma fina camada de neve.
Com o raio do sol, aquele pássaro
Adormecido pela frieza do inverno das multidões
Chacoalha-se, livra-se do peso que a neve lhe causa.

Tem em vista então um luminoso dia
E quer se proteger
Seu ninho está vazio, e parece não representar mais proteção
Ele voa para lugares mais quentes.

No entanto, algo parece ficar neste ambiente gélido e mórbido.
Uma pequena esperança, de que o pássaro retorne.
Trazendo o calor de um abraço sincero.
Derretendo o gelo com lágrimas de compreensão.
Inundando de vida o inverno sertão.

A vista é turva.
Uma árvore solitária, com seus galhos secos
Contrasta com a neve
Diz adeus ao sol que se põe, e namora com os olhos o movimento suave do pássaro agora distante
Esperando ansiosamente o retorno deste seu companheiro.
Esperança.



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