quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Beijo de Judas

Eu me dignifico a conter-me nessa auto análise, pois não existe argumento plausível, motivo considerável ou desculpa arranjada que explique a fé na sinceridade. Para mim, ela é deus extinto, força esquecida, talvez uma fábula. Isso não significa diretamente que eu me ponha a mentir a cada instante dessa vida, mas que quanto mais tento ser o que acredito ser, mais esbarro com a falácia.

Nas vozes mais meigas, saboreio o veneno... nos toques mais suaves, me arranham os espinhos... nas atitudes mais amigáveis, sinto golpes... nos rostos mais simpáticos, distingo máscaras sutis. A leve marca nas extremidades do rosto que separa tua verdadeira face daquela que aparenta é amplamente invisível a quem ainda tem esperança. O implacável sabor adocicado da mentira desata as mais harmônicas relações sociais. As aparências enganam... e como são eficazes nisso. Acredito que isso ocorra porque as pessoas desejam se deixar enganar.

O Interesse, companheiro fiel da Falsidade, baila entre os objetivos mais inimagináveis. A sociedade se desfaz e se refaz introduzindo em seu meio a política de que o amor existe. Às vezes me pego pensando que este é outro deus extinto... outro joelho caído por terra diante das forças tenebrosas do Beijo de Judas.

Beijo... doce expressão de afeto que tem dado vida as mais aparentes relações do extinto amor. Tomou Judas este ato e denegriu o uso do beijo quando encostou seus lábios deturpados em face santa com o intuito de apontar para a morte sua mais digna vitima. Podemos estabelecer deste antigo ocorrido o início de uma geração de Judas, que se beijam e se abraçam, fazem declarações de afeto, e em seu coração guardam os mais repugnantes pensamentos. Destes, afasto-me... e tenho-me tornado o resquício de dores e uma solitária nada preterida.

Não sou imaculada, pois herdei fragmentos da genética traidora. Inclinações são correntes intensas, mas lutar contra elas nunca é em vão. Garanto que entre afagos quentes e mentirosos e o inverno da verdade... prefiro indiscutivelmente morrer de frio.

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