"Era uma vez uma ovelhinha diferente das suas irmãs de rebanho: era negra. Por isso, era desprezada e sofria todo tipo de maus tratos. As outras lhe davam mordidas, patadas; procuravam colocá-la em último lugar no rebanho. Quando estavam pastando, o rebanho inteiro tentava não deixar que a ovelhinha negra provasse uma ervazinha sequer. Dessa forma, sua existência era horrível.
Farta de tanto desprezo, a ovelhinha negra afastou-se do rebanho. Durante muito tempo vagou sem rumo pelo bosque. Quando anoiteceu, exausta, a ovelhinha deitou-se, sem perceber, em um monte de farinha, onde dormiu.
Ao raiar o dia, acordou e viu, cheia de surpresa, acreditou ter se transformado em uma ovelha muito branca, imaculada. Voltou então ao seu rebanho, onde foi muito bem recebida pela sua bela aparência.
Naquela ocasião, estava sendo anunciada a visita do príncipe dos cordeiros, que vinha em busca de uma esposa.
O príncipe foi recebido no rebanho com grandes honras. Enquanto ele observava as ovelhas, viu que eram todas iguais, sem nada que lhe chamasse a atenção. Então desabou uma violenta tempestade. A chuva dissolveu a farinha que cobria o pêlo negro de nossa ovelhinha, e ela recuperou sua cor natural, o pelo negro reluzente.
Quando a viu, o príncipe a escolheu sem pensar duas vezes. As outras ovelhas, amargamente, perguntaram por quê.
- É diferente das outras. Ela é tudo o que eu sempre procurei.
Assim, a ovelhinha negra tornou-se princesa e teve, finalmente, o destino justo que merecia."
Uma pessoa muito especial me disse ontem a noite sobre o que é ser uma ovelha negra. A sociedade prega que a ovelha negra é um elemento da família que foge dos ideais, se rebelando sombriamente. Mas segundo alguns psicanalistas, na verdade a ovelha negra se refere ao elemento mais frágil da família, vítima de maus tratos e frustrações de todos os outros componentes. 93% dessas ovelhas negras acabam por sucumbir ao submundo, se entregando à narcóticos (drogas). Porém, 7% se mantém forte.
Sempre me senti culpada pelos erros dos outros. Sempre chorei por frustrações alheias. Fui vitima, fui frágil. Fiquei em silêncio, e vesti todas as cicatrizes. Tomei para mim a dor, acreditando realmente que eu era a fonte do mal. Ontem, pela primeira vez, fui tratada não como a vilã, mas como a mocinha da história. A princesa. A ovelha negra frágil, mas ao mesmo tempo forte por suportar frustrações e desaforos sem se entregar ao submundo em busca de alívio e esquecimento. Eu sou parte dos 7%.
É bom se sentir protegida, amada e finalmente livre de culpa. Eu não sou culpada. Sou apenas a ovelha negra que a psicologia prega.